quinta-feira, 19 de outubro de 2017

38 ANOS – RETRATOS E REFLEXÕES... REAPRENDENDO A VIVER.


"Depois de um bom trecho percorrido na estrada da vida, sento-me por alguns instantes à beira do caminho, olho para trás... para frente... e reflito...

Quantas lembranças do início da jornada! Dias da infância, aventureiros e bem-aventurados, caseiros e bem aproveitados! A próxima brincadeira? Essa era a minha maior preocupação. Os melhores presentes? A bola Dente de Leite, o álbum de figurinhas, o cãozinho Black, a bicicleta Monark... Papai e mamãe eram meus heróis! Meus irmãos, as melhores companhias... E Deus, alguém de quem meus pais falavam com tanto amor! Aprendi a sorrir, a chorar, a fechar os olhos para orar, a ler histórias, a fazer amigos, a experimentar... Voltar a este tempo de criança? Acho que não. Sinto que essas memórias ficam muito mais bonitas no baú da saudade... Revivê-las hoje não teria o mesmo sabor!

Alguns passos adiante no caminho, e me vejo adolescente. Por causa dos bons valores plantados em mim pelos meus pais, não tive muitos conflitos nem maus envolvimentos, apenas indecisões próprias daquela etapa. Trilharia a profissão médica de fato? Com quem me casaria um dia? Foi quando realmente aprendi a exercitar a paciência (afinal o mundo não girava em torno de mim) e a confiar no tempo e vontade de Deus para cada providência, em vez de seguir o meu ansioso e inconstante coração. Os melhores presentes? O violão Di Giorgio, algumas coleções de livros, a medalha de ouro no campeonato de tênis de mesa... Papai e mamãe eram meu alicerce! E Deus, alguém a quem eu adorava e respeitava! Aprendi a rir de mim mesmo, a chorar o necessário, a levar as minhas dúvidas e dores a Deus, a ler livros técnicos, a multiplicar os amigos, a vencer a preguiça...

Mais alguns anos na estrada da existência, e me enxergo um jovem universitário, exalando vigor e novas ideias! Quantos sonhos e planos...! O tempo corria a meu favor; minhas pegadas eram rápidas e destemidas. Do meu lado, os primeiros aromas de um amor sincero e companheiro: aquela que seria a minha doce metade! Os melhores presentes? Um bom descanso depois uma noite de plantão, o início do exercício profissional, o casamento se aproximando... Papai e mamãe eram minhas referências! E Deus, alguém em quem eu confiava tanto! Aprendi a rir sem temores ou disfarces, a chorar se necessário, a elevar a mente a Deus, a ler as pessoas, a cultivar os amigos, a começar a poupar para o restante da jornada...

Outros passos ainda caminharam... um pouco mais tranquilos e pensados... um pouco mais cansados. Primeiros anos de casamento, despesas e responsabilidades maiores, pé no chão. Aprendi a avaliar as prioridades do lar e dizer os ‘nãos’ necessários sem sofrer demais... Aprendi a respeitar os meus limites físicos e emocionais, e a ouvir o meu corpo, quando pedia por descanso. Os melhores presentes? A notícia da primeira gravidez, a saúde preservada, o sono tranquilo e pacificador... Papai e mamãe eram meus conselheiros! E Deus, o meu querido Pai! Aprendi a rir nas dificuldades, a chorar de alegria, a elevar o coração a Deus, a ler os vieses da vida, a amar os amigos, a agir com prudência e cautela; afinal, quase tudo o que semeamos, colhemos depois.



Nesta estrada continuo, pela graça de Deus, e hoje me olho no espelho. Reparo algumas rugas e cabelos brancos, mas também um olhar diferente, mais calmo e experimentado. Um olhar mais humilde e maduro.

Aprendi a semear aquilo que realmente importa: valores e pessoas, não coisas... pois a vida é longa o bastante para eternizarmos relacionamentos; mas é curta demais para bobagens e supérfluos. Não que estes sejam um mal em si, mas tornam-se maléficos quando tiram o tempo e o direito do que vale realmente a pena!

Aprendi que é importante deixarmos para trás tudo aquilo que não pertence àquela etapa e que nos impede de prosseguirmos. Uma bela construção fica parada na estrada, não segue adiante conosco... Mágoas e ressentimentos nos amarram ao chão... Olhar para frente é dar mais um passo... ainda que tenhamos sido feridos, afinal as cicatrizes devem apenas nos lembrar do que já vencemos.

Aprendi que o amor é um exercício, não o verso de um poema. E que leveza e paciência fazem bem a todo relacionamento!

Aprendi que as verdadeiras amizades se adornam com carinho e admiração, mas se fundamentam no respeito e lealdade. E que nem as distâncias, tampouco as circunstâncias, podem enfraquecê-las!

Aprendi que toda família tem conflitos e problemas, mas nada é tão precioso quanto o almoço dela no domingo e o amparo dela nos dias difíceis. Aprendi que honrar os pais é dever e privilégio de todo filho!

Aprendi que Deus não é aquela figura decorativa dos quadros ou dos brincos e colares, tampouco o gênio provedor de desejos e sonhos... Mesmo perfeito e sublime, Deus é um amigo íntimo que caminha ao nosso lado em toda a jornada da vida, que nos dirige ao rumo certo, que nos ensina o que precisamos, que nos supre o que necessitamos, que nos estende a mão quando caímos, que nos consola quando feridos, que nos salva de nós mesmos, do mundo e do pecado!

Aprendi que, quando a pedra no caminho é grande demais, Deus faz o que não podemos fazer! Mas, quando o espinho é suportável, Ele permite provações para o nosso crescimento, para o exercício da nossa fé e para que pratiquemos o amor. No entanto, tal como o vento se vai, as tribulações também passam. Aprendi que os bons momentos devem ser bem celebrados, porém com sensatez e sobriedade, pois igualmente ficarão para trás...

Meus melhores presentes no tempo de agora? O abraço apertado dos filhos, o carinho irrestrito dos pais, a cumplicidade amável da esposa, o sorriso saudoso dos amigos, um tempo de qualidade naquilo que amamos, um sono sem preocupações... Papai e mamãe são bons amigos! E Deus, o meu Maior Amor! Aprendi a rir sem precisar de motivos, a chorar mais por gratidão que por necessidade, a elevar minh’alma a Deus, a fechar os olhos (e muitas vezes os livros), a ser amigo... Estou reaprendendo a viver!

A vida não é dos que correm mais rápido, nem dos mais fortes ou poderosos... mas daqueles que desfrutam com sabedoria e amor de cada momento! A vida não é dos que acumulam bens, mas daqueles que distribuem o bem! A vida não é dos que passam ilesos, mas daqueles que perdoam e pedem perdão...

Nesse caminho do viver, é preciso pararmos, quantas vezes pudermos, para reavaliarmos nossos passos e apreciarmos a paisagem em nossa volta. Perdemos muito quando focamos apenas em nossas ganâncias vazias.

Mas, quando erguemos os olhos e abrimos o coração, percebemos sorrisos, no meio da monotonia... trocamos abraços, no meio do corre-corre... ouvimos melodias, no meio do trânsito pesado... e compartilhamos amor, em meio à frieza e egoísmo. Viver é amar... simples assim.”

                                                          Pablo Bernardes
                               

Nenhum comentário:

Postar um comentário