quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O Perfume do Amor


“Era um homem muito ocupado. Diretor da maior empresa de telecomunicação do estado, jamais desligava o celular.
– As informações não param... Tragédias e mortes também acontecem de madrugada... – justificava, sem tirar os olhos das notícias.
Workaholic assumido, sua vida social resumia-se a eventos que lhe dessem mais prestígio ou dinheiro. Não à toa, seu casamento perdurou apenas por dois exaustivos meses, mas lhe trouxe uma menina, que morava com a avó.
Num dos feriados de setembro, enquanto muitos viajavam e outros dormiam, lá estava o executivo, a caminho do seu escritório, para mais um dia de labuta. Ao parar em um semáforo, notou alguns papeis de balinha no banco onde sua filha estivera. Então abriu o vidro do carro rapidamente para jogar na rua aquilo que sujava a sua Mercedes. Junto dos papeis, um lacinho azul, que sua filha amarrava no cabelo, também foi parar na sujeira do asfalto.
Sem querer, percebeu pelo retrovisor que uma menina de rua, de pouca idade e tamanho, pegou o laço, amarrou-o no dedo e olhou na sua direção. 


  


           Num súbito movimento, o homem desviou o olhar e esperou o sinal abrir... Mas a menina foi mais rápida e, achegando-se ao vidro do carro, deixou um sorriso saboroso!
‘Que ousadia, a daquela menina!’, pensou o grande homem dos negócios. ‘Graças a Deus não me pediu dinheiro, nem encostou no meu carro’.
Mas a imagem da garota sorrindo para ele visitou várias vezes a sua mente naquela manhã, atrapalhando-o em seus compromissos profissionais. Sem conseguir se concentrar, resolveu voltar para casa antes do almoço, o que nunca fizera nos últimos 10 anos. Sua tarde e noite foram um misto de culpa, pelo tempo perdido, e de agonia, por não conseguir descansar.
No dia seguinte, antes de o Sol colorir o horizonte, lá estava o executivo acompanhando o telejornal, enquanto arrumava a gravata. Pouco depois, já no seu carro, pensava e repensava a agenda da manhã.
Entretanto, ao parar novamente naquele semáforo, percebeu a mesma menina, agora pedindo moedas ao carro da frente. O motorista abaixou o vidro e educadamente colocou alguns centavos na mãozinha suja dela, em cujo polegar se achava agarrado o lacinho azul. Ela ainda visitou outros dois carros; porém, quando se viu ao lado da Mercedes, não pediu moedas, apenas deixou o mesmo sorriso.
Durante toda aquela semana foi assim. Na sexta-feira, levemente condoído, o empresário abriu o vidro para ajudar com moedas a mocinha (algo que nunca fazia), mas ela as rejeitou, apenas lhe servindo com o sorriso. Este simples gesto passou a acalentar os dias fatigantes daquele homem, que já despertava toda manhã ansiando por aquele momento. Aquela garota era a menina de rua da qual ele mais gostava: não lhe pedia dinheiro e sempre lhe dava um sorriso.
Certo dia, depois de algumas semanas daquela nova rotina, ao passar pelo mesmo local, não encontrou a menina. Olhou para um lado, para o outro, estranhado... Procurou com os olhos entre os veículos, nas calçadas... nada! O sinal abriu, e o homem acabou seguindo o seu caminho.
Pouco tempo debruçado em sua mesa, porém, foi-lhe suficiente para concluir que não conseguiria trabalhar naquele dia, outra vez. O vazio do sorriso que não premiou sua manhã ocupava toda a concentração necessária às suas tarefas mentais.
‘Por que será que ela não estava lá? Será que está doente? Será que mudou de ponto? Será que sua família foi para outra cidade?’, conjecturava ele, angustiado.
Alguns minutos depois, cancelou a reunião da qual faria parte e voltou ao seu trono de rodas. Rapidamente, dirigiu-se ao único semáforo que, quando fechado, lhe afagava o coração.
Mais uma vez, ninguém por ali. Só carros estranhos e pedestres desconhecidos. Nenhum sinal da garota por perto. Então o executivo estacionou a Mercedes e começou a procurar a sua menina de rua.
‘Se eu achá-la, vou lhe dar uma nota de 50 reais... Não! Vou lhe pagar um bom lanche, talvez um almoço... Melhor não... O que pensarão de mim?’
Mas ela não estava por ali.
Sentado numa calçada próxima, um engraxate comia seu pedaço de pão.
– Vai uma graxa, tio?
– Agora não... – respondeu o homem, sem fitar o menino. – Você sabe me dizer onde está aquela garotinha que sempre pede dinheiro ali no sinal?
O engraxate abaixou a cabeça... esperou algum tempo... depois respondeu:
– Ela morreu atropelada nessa madrugada, enquanto dormia ali no cantinho...
Atônito, o milionário que toda manhã mendigava um sorriso, pôs-se a chorar, sem pudores, como se perdesse o sentido da vida...
‘Por que não percebi que ela não tinha casa? Que dormia na rua, no frio, sozinha?’, remoía ele. ‘Como pude ser tão mesquinho?’
Enquanto caminhava de volta ao carro, ainda cabisbaixo, encontrou no canteiro central da avenida, o lacinho azul. Voou sobre ele e o agarrou com força! Algum tempo depois, foi encontrar sua filha no colégio.
Nunca soube o nome, a idade ou qualquer informação sobre aquela garota, que pudesse torná-lo ao menos um pouco diferente de todas as pessoas que davam a ela moedas no trânsito. A única coisa que ele soube foi que ela guardou – como um presente precioso! – um velho lacinho azul que a filha dele nem usava mais e por isso agradecia a ele todos os dias com um sorriso que jamais se apagará!

*                    *                    *                    *                    *

Este pequeno enredo fictício é a história real da humanidade. Descaso, egoísmo, egocentrismo... Frieza, orgulho, indiferença... Cada um faz dos seus dias o que bem quer... Cada um leva a vida, como se dela fosse o proprietário, o supremo criador...




Onde está o amor que Jesus nos ensinou1? Onde está o amor com o qual Deus nos ama2? Por que, muitas vezes, esquecemos as Suas promessas eternas3 e fixamos os olhos nos momentos ou prazeres tão fugazes que nos assediam?

Por que temos tanta facilidade em apontar o dedo, em gritar por justiça, em vomitar soberba? E por que tanta dificuldade em perdoar, em compreender, em estender a mão? Onde está a compaixão?

Porventura, não são verdadeiras estas palavras: ‘Nos últimos dias..., os homens serão amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, profanos, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, vaidosos, mais amigos dos prazeres que de Deus, tendo forma de piedade mas negando-Lhe o poder4’?

Muito mais que aparências, Deus quer o nosso coração5! Muito mais que sacrifícios, Deus quer a nossa vida6! Antes de tudo, Ele não pede os nossos melhores atos, tão imundos, tão errantes7... Ele pede os nossos joelhos quebrantados8 e a nossa adoração sincera9! 




         Adoração que não se resume a cânticos pontuais na congregação local, tampouco a orações diárias como um mantra repetitivo...

A nossa adoração deve começar ao abrirmos os olhos e não terminar quando adormecemos... É como um bom perfume que nos acompanha aonde vamos... Um bom perfume que exalamos sem perceber, mas que contagia quem está ao nosso redor10!

Este perfume adorador nasce do verdadeiro amor!

Amando a Deus sobre todas as coisas, perfumamos os nossos pensamentos com pureza e retidão11. Esquecemos mágoas, pecados, vaidades12... Focamos o nosso pensar naquilo que realmente importa: o reino de Deus e a Sua vontade13. Adoramos ao Senhor com a nossa mente14...

Amando a Deus sobre todas as coisas, perfumamos as nossas palavras com doçura15 e sabedoria16. Falamos quando podemos consolar, instruir, edificar17... Cantamos para expressar o que dentro de nós já é imenso18! Adoramos ao Senhor com o nosso coração19...

Amando a Deus sobre todas as coisas, perfumamos os nossos atos com misericórdia e bondade20. Agimos com fé sob a direção da Palavra de Deus e do Seu poder21. Plantamos boas sementes... colhemos preciosos frutos22... Adoramos ao Senhor e servimos ao próximo com toda a nossa vida23!

Queremos ser diferentes? Verdadeiros adoradores?

‘Amarás o Senhor, Teu Deus, sobre todas as coisas e ao Teu próximo como a Ti mesmo24.’

Queremos ser discípulos de Jesus?

‘Nisto conhecerão os que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros25.’     


                                                      Pablo Bernardes


Referências bíblicas que embasam o texto:

1) Mateus 5.44
2) Jeremias 31.3; João 3.16; Romanos 5.8; 1 João 4.19
3) João 14.1-3
4) 2 Timóteo 3.1-5
5) 1 Samuel 16.7; Joel 2.13
6) Mateus 9.13
7) Isaías 64.6
8) Salmo 51.17
9) João 4.23-24
10) Salmo 34.1; 2 Coríntios 2.14-15
11) Filipenses 4.8
12) Lamentações 3.21; Filipenses 3.13
13) Salmo 143.10; Mateus 6.33
14) Romanos 12.1-2
15) Provérbios 15.1 e 16.24
16) Provérbios 15.23; Eclesiastes 12.11
17) Provérbios 10.21, 12.19 e 18.21; Tiago 3.10
18) Salmo 103.1
19) Salmo 16 e 86.12
20) Gálatas 5.22-23
21) Salmo 119.105; Mateus 22.11
22) Salmo 1; Isaías 41.18; Gálatas 6.7-8
23) João 13.15; Gálatas 5.13; 1 Pedro 4.10
24) Lucas 10.27
25) João 13.35